Thursday, April 19, 2007

Flávia Pinto

SEMEEI NO MEU QUINTAL (2)


Semeei no meu quintal
A semente dum repolho.
Nasceu-me um velho careca
Com uma batata no olho.

Raivosa que nem um porco
Dirigi-me à florista
E quem me passasse à frente
Ficava que nem tosta mista.

- Se me deram um repolho
E de lá saiu um velhote,
Agora molho-vos todos
E vão arder no archote.

- Desculpe-nos lá, por favor.
De vez em quando acontece,
A bruxa fez um feitiço
Que a nós também enlouquece.

Fiquei a pensar no assunto
E logo me resolvi:
Iria falar à tal bruxa
E dizer que nunca a vi.

Mas pensar não é fazer,
Mesmo debaixo da terra.
Tentei caminhar numa nuvem
Caí com um grito de guerra.

A próxima coisa que ouvi
Foi um agudo zurrar.
Era o gatinho da bruxa
Que acabara de chegar.

Por mais espantoso que fosse,
Era um gato que zurrava,
Tinha o pêlo cor-de-rosa
E o focinho abanava.

Saltitou para a minha frente,
Transformou-me num leão.
Palrou e espirrou um alho
Que acertou no meu coração.

Não consegui acreditar
Que a semente daquele alho
Começou a germinar
E de lá saiu um carvalho.

Os meus braços foram ramos,
Os meus pés foram raízes,
Da cabeça vieram flores
Que voaram que nem perdizes.

Eu fiquei ali plantada
Sem poder abrir a boca,
Se vieres um carvalho mexer
Podes dizer que sou louca.

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