Thursday, March 15, 2007

Catarina Carvalho

SEMEEI NO MEU QUINTAL (1)

Semeei no meu quintal
a semente do repolho,
nasceu-me um velho careca
com uma batata no olho.

Semeei no meu quintal
a semente do tomate,
nasceu-me um grande louco
pensando ser Bonaparte.

Semeei no meu quintal
a semente da alface,
nasceram-me balões
que me rebentaram na face.

Semeei no meu quintal
a semente da cebola,
nasceu-me um grande tonto
a cantar que nem uma rôla.

Farta desta confusão,
fui-me queixar ao jardineiro.
Meteu-me no fundo do chão,
bem debaixo dum pinheiro.

Bem debaixo dum pinheiro,
senti uma coisa na testa:
era milhões de formigas
a fazerem uma grande festa!

(A primeira quadra pertence à tradição popular portuguesa.)

Joana Marquês

UMA HISTÓRIA BEM CONTADA

Era uma vez uma menina chamada Joana que vivia noutro planeta, chamado Euforia. Tinha um cão chamado Enguia.
À tarde, quando chegava a casa, depois de fazer os trabalhos da escola, deitava-se junto de uma velha árvore do seu quintal. Pensava em tudo, como seriam as pessoas dos outros planetas, como se vestiriam. Aquela árvore era onde ela estava bem. No Verão dormia lá no chão. Para a Joana, a árvore era o seu mundo encantado.
O planeta da Joana era pequeno, as casas estavam viradas ao contrário, as árvores não estavam direitas como as nossas, só que com folhas verdes-alface e flores nos ramos.
Não havia nada que destruísse o planeta. O planeta era o melhor de todos.
Um dia aconteceu algo extraordinariamente horrível. Ao seu planeta Euforia chegaram pessoas de outro mundo. Elas eram verdes, tinham cinco cabeças e cada uma das cabeças tinha seis orelhas. Eram muito pequenas, mediam menos de vinte e cinco centímetros, mas eram muito amigáveis. Mas essas pessoas eram muito barulhentas e faziam mal às árvores.
Desde aí o planeta Euforia nunca mais foi o mesmo e a Joana veio para o planeta Terra, onde escreveu este texto que acabaram de ler.

Wednesday, March 14, 2007

Fábio Marquês

O CASTELO ANDANTE

Era uma vez um monstro que era muito malvado e tinha muitos poderes.
Um dia o monstro disse:
- Vou à cidade destruir muitas casas e fazer um castelo andante.
E assim foi: o monstro construiu o castelo andante e, para o conduzir, fez um demónio de fogo que se chamava Calsifer.
Também à solta estava a Bruxa do Nada, que ainda era mais malvada do que o monstro. Até enfeitiçou uma rapariga, a Sophie. Ela era muito nova e a bruxa transformou-a em velha.
Um dia o monstro disse:
- Vou ajudar a Bruxa do Nada para ela arranjar uma velha que saiba trabalhar.
Quando o monstro chegou, a Bruxa afirmou:
- Eu sei o que tu vens cá fazer. Vens pedir uma velha para trabalhar, não é?
- Sim. Porquê?
- Porque eu só tenho uma disponível. Ela chama-se Sophie. OK?
- Sim.
- Espera - continuou a Bruxa -. O que é que tu me vais dar em troca?
- Já sei... um chupa. Não, não... uma melga. Não, um murro... Não, não... Já sei... Não te dou nada. Não! Dou-te um demónio de fogo igual ao meu. Pode ser?
- Sim, acho que sim.
E assim foi. Quando a Sophie lá chegou, protestou:
- Que barafunda! Isto não é limpo há séculos... Adivinhei?
- Sim. É tudo para tu lavares e limpares - respondeu o Calsifer, o demónio do fogo.
- Oh não! - disse a Sophie.
- Oh sim! - insistiu o Calsifer - mas agora vais para a casota do cão.
Na manhã seguinte, a Sophie limpou e esfregou. Mas houve um dia em que o monstro disse ao Calsifer:
- Põe água na banheira para a Sophie tomar banho.
- OK, senhor monstro mauzão.
E passaram anos e anos...
A Sophie um dia reparou no monstro. Ele tinha a cara cortada. Parecia que navalhas tinham passado por ali. A Sophie perguntou ao Calsifer:
- O que é aquilo que ele tem cara?
- Sabes, o monstro não é mau...
- Não, não é.
- Cala-te, Sophie! E deixa-me continuar. - interrompeu o Calsifer - Ele, o monstro, anda a tentar combater a guerra dos maus.
- Ah, então ele também é bom?
- Sim.
- Ele combate o mal.
E a Sophie foi falar com o monstro. E esclareceram tudo. O Calsifer levou o castelo até ao lago Estrela e o monstro conseguiu combater o mal até ao fim. Mas faltava acabar com o feitiço da Sophie.
Um dia apareceu um espantalho chamado Cabeça-de-Nabo que tinha a poção da Sophie na mão. Para lhe dar a poção tinha que receber um beijo dela. O Cabeça-de-Nabo deixou aquilo cair. A Bruxa do Nada apanhou-o e levou-o para a sua toca. O monstro e o Cabeça-de-Nabo foram atrás da feiticeira. Houve outra guerra, mas quem ganhou foi o Cabeça-de-Nabo, porque o monstro morreu na batalha. O espantalho afirmou:
- Isto é para ti, amiga Sophie.
- Obrigada. E o monstro?
- Ah, o monstro morreu na batalha... Desculpa, Sophie.
A Sophie tomou aquilo e voltou a ser jovem. O Calsifer tornou-se num cavalo com as cores do fogo. E o Cabeça-de-Nabo transformou-se em príncipe encantado e casou com a Sophie. Viveram felizes para sempre.

Thursday, March 01, 2007

Pedro Luís

EU VI UMA ESTRELA

Eu vi uma estrela
no céu a brillhar
e fiquei feliz
só de a olhar.

Eu vi uma estrela,
uma estrela diferente,
e só de a olhar
fico sempre contente.

Eu vi uma estrela
lá no alto dos céus,
tão alta, tão alta
como os Pirinéus.

Eu vi uma estrela
tão brilhante como o Sol,
tão bonita, tão bonita
como o canto do rouxinol.

Eu vi uma estrela,
azul era a sua cor,
sempre que olho para ela
transmite-me muito amor.